Já cheguei a queimar, já cheguei a arder, a exalar desejo, felicidade, tristeza, até mesmo leveza. Já cheguei a me apaixonar, a ter o mormaço de um amor tranquilo, um tesão avassalador ou mesmo um carinho fraternal. Já cheguei a esbanjar cores, explodir de um brilho intenso do nascer do sol, até mesmo sorrir pra pureza da água e ser retribuída.

Hoje não há mais sentimento algum. Hoje existem apenas as marcas do que foi arrancado de mim. E dessas marcas é que se formou um buraco. Um vazio. O vácuo de um universo inteiro. Ou talvez tenha apenas descoberto o lençol que o cobria.

Hoje só restam borrões de fotografias antigas do corpo que eu tanto expunha para as lentes desfocadas. Hoje só resta o semblante e as curvas do que um dia foi artístico.

Passo dias inteiros tentando encontrar respostas pra algo sem mesmo saber o que procuro.
Passo dias inteiros encontrando caminhos e trilhas para terceiros e se esquecendo – talvez, de propósito – dos meus. Achar a resposta pros problemas dos outros é mais fácil do que gabaritar nos nossos.

Já cheguei a ter contornos e tinta de canetinha permanente. Hoje são apenas vestígios de manchas em aquarela sem nenhum desenho. Talvez seja a anestesia se espalhando pelos vasos sanguíneos.

Gelado ou quente, pelo menos meu coração possuía temperatura. Então, hoje, eu o cubro com um, dois, três cobertores, esperando que ele se aqueça. Mas isso não acontece.

É como se eu fosse deixando uma parte de mim em cada pessoa que eu conhecesse, mas não recebesse outra em troca. É como se eu fosse perdendo uma parte de mim em cada gota de chuva que caísse e não conseguisse repor todas elas novamente.

Se somos tão importantes assim, não deveríamos nos oferecer de bandeja.

Mas as coisas são como um emaranhado de fios, se puxarmos todos de uma vez, só criamos mais e mais nós. Precisamos puxar um fio de cada vez.

Minha mãe uma vez me disse que a força que possuímos não vem de fora. Ela nasce conosco. E o maior dos nossos objetivos é saber como chegar a essa força. Essa força se resume em ver o lado bom das coisas e se esforçar pra não deixar que o efeito branco e preto tome conta das nossas fotos. 

Talvez seja como aquele clichê de depois da tempestade sempre vir o arco íris. Mas se o arco íris demorar muito para surgir, nós precisamos perder o medo e sair para brincar na chuva. 


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2 Comentários

  1. Nossa que texto lindo, e parece que foi escrito para mim, porque estou na fase de término de namoro e não está sendo fácil, ou seja, preciso sair pra brincar na chuva mesmo sem o arco íris.

    http://alinesecretplace.blogspot.com.br/

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    1. hahaha Acho que a hora certa somos nós quem fazemos, se a tempestade não para, a gente precisa aprender a brincar na chuva. Não precisamos de arco íris pra brincar.

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